quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

GRITOS SILENCIOSOS.

“Eu estou depressivo…sem telefone…dinheiro para o aluguel…dinheiro para o sustento das crianças…dinheiro para as dividas…dinheiro! Eu estou sendo perseguido pela viva memória de matanças, cadaveres, cólera e dor…pelas crianças famintas ou feridas…pelos homens loucos com o dedo no gatilho, mesmo policiais, executivos assassinos…”
Trecho da carta de despedida de Kevin Carter

“Um homem ajustando suas lentes para tirar o melhor enquadramento do sofrimento dela talvez tambem seja um predador, outro urubu na cena”, comentou sobre a própria obra o fotográfo sul-africano Kevin Carter (1960-1994). A polêmica foto acima foi tirada em março de 1993, numa viagem ao sudeste do Sudão. Carter chegou com a intenção de documentar os movimentos rebeldes do país, mas o horror da fome e da miséria acabaram conduzindo seu trabalho.

Numa dessas expedições, Carter encontrou a criança da foto rastejando faminta até um campo de alimentação da ONU, a aproximadamente um quilomêtro do local. O fotográfo observou a garota, e percebeu um urubu a espreita. Carter diz ter aguardado até vinte minutos, esperando que o pássaro se retirasse. Como o urubu não saiu, ele procurou o melhor enquadramento, tirou a foto e açoitou o predador. Depois, partiu dali abandonando a criança da maneira que a encontrou.

A foto foi publicada pela primeira no The New York Times, em 26 de março de 1993. Imediatamente, a reação popular se manifestou. Cartas e telefonemas inundaram a redação do jornal americano, questionando o paradeiro da criança (até hoje desconhecido) e o comportamento do fotográfo após conseguir a imagem. A situação era, no mínimo, paradoxal.

Se para grande parte do público o fotojornalista foi desumano, sádico e frio, por não intervir no sofrimento da criança, para a crítica especializada Kevin Carter merecia todos os cumprimentos pelo profissionalismo e objetividade. Ganhou oPrêmio Pulitzer por Fotografia, em 23 de maio de 1994, o mais importante prêmio jornalístico do mundo, ao mesmo tempo que sofria pressão popular e pessoal pela sua foto mais famosa. “Essa foi a minha foto de maior sucesso, depois de dez anos como fotográfo, mas não quero pendurá-la na parede. Eu a odeio”, declarou em entrevista a revista American Photo.

Após a foto que o tornara conhecido mundialmente, o fotográfo começara a abusar exageradamente das drogas, e vivia reclamando da falta de dinheiro, da depressão e da enorme culpa. Enfim, no dia 27 de julho, dois meses depois do auge profissional com o Prêmio Pulitzer, Carter dirigiu até perto de um rio onde brincava quando era criança, amarrou uma mangueira de jardim no cano de descarga de sua picape, inseriu a outra extremidade na cabine do motorista, trancou-se, ligou o motor e começou a escrever uma carta de despedida, enquanto era asfixiado pela inalação de monóxido de carbono. “Eu estou realmente arrependido. O sofrimento da vida é tão grande que a alegria já não existe mais”, escreveu em um bilhete encontrado no banco traseiro.

Trecho retirado do texto de Daniel Faria.

Quantas vezes o nosso olhar se comporta como o do fotografo e se restringe à uma analise “meramente profissional” da vida de quem se apresenta a nós gritando, muitas vezes de forma silenciosa, por ajuda.

A reflexão é se vamos de fato sair da inércia espirtual e manifestar de forma eficaz tudo o que Cristo confiou a nós.

Diariamente vamos ver pessoas tão fragilizadas e vulneraveis quanto essa criança da foto, cercadas por inúmeros urubus a fim de tirar-lhes a vida… cabe a nós deixarmos nossos equipamentos de lado e investir vida e a esperança de Cristo em cada uma delas.

Um comentário:

  1. Só tem um problema em levar esta questão ao poder de cristo ou seja lá qual ser vc queira: Pq esta situação aconteceu?

    Se há algo de bom nos vendo, nos protegendo, pq essa situação aconteceu?

    A culpa maior é do sujeito que não interviu, mas tirou a foto, ou do sujeito que não interviu e deixou que a situação acontecesse?

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